quarta-feira, 3 de julho de 2013

CHIMANGOS E MARAGATOS



                      Origem dos Termos Chimangos e Maragatos

 
   

MARAGATO

O termo tinha uma conotação pejorativa atribuída pelos legalistas aos revoltosos liderados por Gaspar Silveira Martins, que deixaram o exílio, no Uruguai, e entraram no RS à frente de um exército.
Como o exílio havia ocorrido em região do Uruguai colonizada por pessoas originárias da Maragateria (na Espanha), os republicanos apelidaram-nos de "maragatos", buscando caracterizar uma identidade "estrangeira" aos federalistas.
Com o tempo, o termo perdeu a conotação pejorativa e assumiu significado positivo, aceito e defendido pelos federalistas e seus sucessores políticos.
O lenço VERMELHO identificava o maragato.

CHIMANGO

A grafia pode ser ximango. Ave de rapina, falconídea, semelhante ao carcará.
Epíteto depreciativo dado aos liberais moderados pelos conservadores, no início da Monarquia brasileira. No RS, nos anos de 1920, foi a alcunha dada pelos federalistas ao governistas do PRR.
O lenço de cor BRANCA identificava os chimangos.   

MARAGATO

Denominação dada ao revolucionário ou partidário da revolução rio-grandense de 1893, adepto do credo político pregado por Gaspar da Silveira Martins e adversário do partido então dominante, chefiado por Júlio Prates de Castilhos.Revolucionário ou partidário da revolução rio-grandense de 1923, adepto do partido liderado por Joaquim Francisco de Assis Brasil e contrário a Antônio Augusto Borges de Medeiros, governador do Estado. || Federalista.
"Na província de León, Espanha, existe uma comarca denominada Maragateria, cujos habitantes têm o nome de maragatos, e, que, segundo alguns, é um povo de costumes condenáveis; pois, vivendo a vagabundear de um ponto a outro, com cargueiros, vendendo e comprando roubos e por sua vez roubando principalmente animais; são uma espécie de ciganos.
Aos naturais da cidade de São José, no Estado Oriental do Uruguai, dão neste país o nome de maragatos, talvez porque os seus primeiros habitantes fossem descendentes de maragatos espanhóis. Pelo fato de os rebeldes em suas excursões irem levantando e conduzindo todos os animais que encontravam, tendo apenas bagagens ligeiras, cargueiros, etc. Como os da Maragateria e porque (com exceções) suspendiam com o que encontravam em suas correrias, aplicou-se-lhes aquela denominação, que aliás eles retribuíram com outras não menos delicadas aos republicanos, a despeito da correção em geral observada por estes em toda a luta.
"Ainda hoje (l 897), que 11 séculos são decorridos, os maragatos constituem um nódulo distinto no meio da população lionesa. São ainda os bérberes antigos: usam a cabeça raspada, com uma mecha de cabelo na parte posterior; falam uma linguagem que não é bem castelhana, a qual apresenta uma pronúncia arrastada, dura e lenta, e são geralmente arredios.
"Trouxera consigo, além do irmão Aparício, um grupo de maragatos do Departamento de S. José, nome por que eram conhecidos os imigrantes de certa região da Espanha, e, que, pelo prestígio do chefe, se extendeu a todos os rebeldes da Revolução Federalista e até, posteriormente, a qualquer adversário da situação castilhista do Rio Grande


"Velho tropeiro Vicente,
que amas tuas origens...
fibra de velhas raizes,
em solo duro e ingrato.
Teimoso remanescente
duma raça em extinção...
És caudilho maragato
sem armas nem munição,
peleando valentemente
na defesa deste chão!"
 

CHIMANGO

Alcunha dada no Rio Grande do Sul aos partidários do governo na revolução de 1923.
 Ave de rapina muito comum na campanha riograndense, parecida com o carcará, porém menor do que este.
 

CAFÉ DE CHALEIRA



CAFÉ DE CHALEIRA OU CAMBONA:
 TRADIÇÃO GAÚCHA DO RIO GRANDE! 
 
                              
 
 
Café de Chaleira: cume tradicional
dos Gaúchos Campeiros d
Quatro gaúchos, desde a madrugada, troteavam estrada afora com um lote de cavalos por diante. Às nove horas acamparam junto a uma sanga, onde havia algumas árvores, para tomarem café e mudarem de cavalo.
Improvisaram uma forma contra um aramado e pegaram os cavalos para muda. Fizeram fogo e puseram as chicolateiras com água para esquentar. Depois, desencilharam os montados, tirando das malas de garupa o café, as bolachas e o açúcar.
Naquele tempo o café era composto, isto é, com açúcar dava uma tintura preta com um forte e agradável cheiro. Em geral, os tropeiros costumavam dividir as obrigações do fogão entre si. A um tocava fazer café, outro era o assador de carne; a um terceiro cabia fazer e encher o mate, a outro, a responsabilidade de juntar lenha; desta maneira tornava-se fácil e até mesmo divertido o trabalho.
O encarregado de fazer café naquela manhã, assim que ferveu uma das chicolateiras, a retirou do fogo e despejou dentro dela duas colheres de café em pó. Mexeu-o bem com a ponta da faca até dissolver todo; depois tornou a pôr a chicolateira no fogo. Quando levantou nova fervura, deixou que transbordasse um pouco do líquido pela beira da vasilha. Em seguida, retirou-a do fogo e meteu um tição aceso dentro do café, que provocou nova ebulição. Ali o manteve por segundos. 
Isso feito, com as costas da faca, deu algumas pancadinhas por fora, na chicolateira. Estava pronto o café. Quando não há tição, por exemplo, em fogo de gravetos, ou em zona que existe lenha e o fogo é feito com corunilha, isto é, esterco seco de gado, nestes casos, pondo água fria na fervura do café, ajuda a sentar a borra.
Feito o café em chicolateiras ou cambonas, ficava à disposição dos tropeiros. Estes serviam-se despejando o café em seus canecos alouçados ou guampas onde botavam açúcar a seu contento.
Depois de servidos, com uma bolacha na mão e o copo de café na outra, sentavam nos arreios ou nos pelegos dobrados, às vezes colocados em cima de uma caveira de vaca, já limpa pelo tempo, ou de alguma pedra, fazendo às vezes de banco. Alguns preferiam ficar acocorados nos "garrões", como é hábito entre nosso homem do campo, e, assim acomodados, tomavam tranqüilamente, o café da manhã.
Finda esta ligeira refeição, lavavam os copos e guardavam na mala de garupa o açúcar, bolacha e o café em pó. A sobra do café nas cambonas era posto fora e as vasilhas bem lavadas na sanga. Estas mesmas chicolateiras ou cambonas serviam para, ao meio-dia, aquentar a água para o amargo, como também para preparar a salmoura para o assado. Levantando o acampamento, os tropeiros seguiam a trote chasqueiro, estrada afora, pitando um crioulo.
Os gaúchos viajavam dias, fazendo 10 a 15 léguas diárias sem se aborrecerem. Nem se davam conta do tempo perdido nestas jornadas. Para eles a questão do tempo era indiferente; depois de um dia vinha outro; o importante, sim, era o serviço que estavam incumbidos de fazer.
 

A LENDA DO PRIMEIRO GAÚCHO



Século XVIII.
Uma partida de brasileiros atravessa as verdejantes campinas do Rio Grande do Sul. Impulsionados pela necessidade de braços para as lavouras, buscam o índio. Hão de avassalar as tribos ocupantes daquela região. Com esta disposição, viajam bem municiados e armados. Os índios Minuano, avisados pelas sentinelas, da aproximação dos brancos, montam em seus fogosos cavalos e, armados de flechas e boleadeiras e lanças, deixam seu acampamento e rumam para as coxilhas. Ao avistar os brasileiros se aproximando, os índios usam de sua tática de ocultar-se ao longo de dorso dos cavalos. Destarte, dificilmente saíram descobertos pelos inimigos. Imóveis, esperam eles o momento azado para atirar-se sobre os viajantes. Os brasileiros não são conhecedores dos hábitos e da tática empregada pelos índios habitantes das campinas do Sul. E avistando à distância o bando de cavalos pastando, tomam essa direção, muito senhores de si. Assim, ao se aproximarem os brasileiros, os índios despencam-se nos seus animais do cimo das coxilhas, em galopada, investindo contra os brancos com furiosas saraivadas de flechas. Respondem estes com tiros de armas de fogo. Nova investida dos índios, agora servindo-se das lanças, obriga os invasores a fugir em desordem. Caído por terra acha-se um moço ferido; a seu lado, uma jovem índia minuana. Fascinara-a a coragem do estrangeiro. O brasileiro sabe da sorte que o espera. E, interrogando a moça quando será sacrificado, responde-lhe esta que nada tema, pois estará a seu lado. Anima-o com palavras confortadoras, cheias de simpatia e compaixão pela sorte do estrangeiro. O prisioneiro é levado para o acampamento dos Minuanos. Enquanto esperam que se cure da ferida para sacrificá-lo, lhe dão toda a liberdade sob a vigilância das sentinelas. O jovem branco resolve fazer uma viola. Uma tarde, à sombra de uma árvore, com a pouca ferramenta de que dispõe, a muito custo vai improvisando um rústico instrumento. Inicialmente aparelha, em forma de espessa tábua, um pau de corticeira. Cava-o, dando-lhe a forma de viola. Coloca uma tampa com abertura circular para dar vibração ao som das cordas. Para colar a tampa, emprega o grude da parasita sombaré, das árvores da serra. E da própria fibra da parasita ele prepara as cordas para o instrumento. A índia já lhe tem muita amizade e está sempre a seu lado nas horas de folga. Enquanto lhe vê trabalhar, canta-lhe suavemente um canto doce e pitoresco da gente minuana. Ainda não passara um alua e já, na grande ocara do acampamento, celebra-se o ritual do sacrifício. Amarrado a um tronco está o prisioneiro. Todos os índios da nação, reunidos em volta dele, dançam e cantam sua morte. De quando em vez passam, de mão em mão, cuias contendo delicioso vinho, fabricado com o mel eiratim. Há um silêncio de morte em todo o acampamento. O chefe minuano ordena que soltem o prisioneiro e tragam-no a sua presença. Fitando o moço bem nos olhos, assim fala o cacique: - que aos teus irmãos sirva de lição esta última derrota. Ou não nos tornem vir a nos incomodar. Os que vierem nestes campos buscar escravos, hão de ser esmagados pelas patas de nossos cavalos. E tu pagarás com a morte a tua audácia e a dos teus! Contudo, o chefe Minuano diz ao condenado que faça o seu último pedido. Surpreende-se o branco  com tal gesto. E, dotado de uma inteligência não vulgar, num relance percebe como poderá livrar-se da morte. Sabendo da emotividade e a influência que exerce a música sobre aquelas criaturas, pede que lhe tragam o seu instrumento de cordas. Quer tocar pela última vez; cantar uma balada de sua terra. É a jovem índia quem lhe traz a sua viola, debaixo dos olhares curiosos dos índios. Cheio de fé, o moço pega da viola. Depois de alguns sonoros acordes, entoa uma canção. E o rito bárbaro daquelas fisionomias rudes transforma-se como por encanto. Ouvem-se com enlevo, exclamando a todo instante: - Gaú-che! Gau-che! – a significar gente que canta triste. Sensibilizados pela doce cantiga do condenado á morte, os índios intercedem para que o sacrifício seja revogado. E, assim, o brasileiro fica morando com os Minuanos. Enamorado da jovem índia, casa-se com ela. E dessa bela união, do elemento branco com o indígena, resultou o tipo desse homem extraordinário que se chama gaúcho!
Nota de Barbosa Lessa: a versão gaú – cantar triste, e che – gente, é combatida por vários entendidos em questões linguísticas,que alegam se inexata essa explicação etimológica.
Quanto a Che –expressão gaúcha tão usual na conversação comum, pode significar fulano, pessoa, e aplica-se muitas vezes quando se quer chamar a atenção de um interlocutor, cujo nome próprio se desconhece.

CAUSO - OUTRA DO CARANCHO



O CARANCHO E O TÁXI
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Lá em Dom Pedrito-RS, na Praça Marechal Osório, existe um ponto de táxi. 
Antigamente,havia ali um taxista chamado Seu Xeirinho. 
O vivente tinha um TL verde-bandeira, e não fazia
fiado de jeito nenhum. 
Certa feita o Carancho– xiru por demais conhecido na cidade, e que
andava, sempre bem pilchadito, com um baita rádio na garupa de sua bicicleta,
escutando a 
Upacaraí – convenceu o taxista a fazer um corrida para o interior do município.
 Ao chegar à fazenda de seu pai, o Carancho perguntou ao Seu Xeirinho: 
 Quanto ficou a corrida, chê? 
O taxista respondeu: – Cem cruzeiros.
 E o nosso amigo Carancho, então, lascou essa: – Chê!
Seu Xeirinho! Dá uma ré de quarenta, pois eu só tenho sessenta pila no bolso, chê!

CAUSO

                O CARANCHO E O CAIXÃO DE DEFUNTO                               
 
 


 



Certa feita, num domingo à tarde, sentado nas guardas da ponte do rio Santa Maria,
que banha Dom Pedrito, o nosso amigo Carancho aguardava uma carona, que o levasse até a campanha.

Eis que surge a picape Willys da prefeitura municipal, levando um caixão para um defunto carente do interior.
O Carancho, então, pediu uma carona e foi atendido.
Dali a pouco começou a cair um chuvarada daquelas. Sem se apertar, o Carancho velho
entrou no caixão e, mais do que depressa, fechou a tampa, protegendo-se da chuva.
Mais adiante, outras pessoas também pegaram carona. E, uma vez em cima da picape,
como é próprio do pessoal da campanha, que acredita em assombração e outros bichos
mais, todos passaram a olhar, desconfiados, para aquele caixão de defunto fechado.
Vai daí que lá pelas tantas começou a esquentar no interior do caixão, e o Carancho velho,
abrindo a tampa de sopetão, perguntou: - E daí, indiada? Como é que tá o tempo aí fora,
chê? Barbaridade! Foi vivente saltando pra todo o lado e se boleando pelos barrancos da
estrada. Dizem que teve gente que correu mais de dez léguas, e sem parar!