quarta-feira, 28 de junho de 2017

GAÚCHO E O DIALETO RIO GRANDENSE


  
Gaúcho o Dialeto Crioulo Rio-Grandense
Historicamente, o Rio Grande do Sul, estado ao extremo sul do Brasil, sempre foi uma região de conflitos e de culturas diversas. Numa área pertencente à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, alguns portugueses fincaram o pé em partes da localidade no intuito de tomar as terras dos espanhóis, mas esqueciam-se todos que os donos legítimos da terra eram os índios. Na prática, nunca houve divisão de fato dos territórios do pampa rio-grandense, pampa argentino e pampa uruguaio, proporcionando uma integração – nem sempre pacífica – entre os três povos. Do convívio entre os imigrantes espanhóis e portugueses com os índios surgiram muitas misturas raciais originando o que se chamou de “raça gaúcha” (cafuzos de índios je-tupi-guarani com ibero-europeus) e o surgimento involuntário de uma cultura completa que era compartilhada pelos povos. Em conflito constante com os “castelhanos” (argentinos e uruguaios de ascendência castelhana) e com os portugueses (então colonizadores do Brasil), os gaúchos continuavam ignorando os limites políticos entre os territórios, mas criavam seu próprio isolamento  cultural.  Na tentativa de não se identificarem nem com os portugueses (dominadores) e, posteriormente, brasileiros,  nem com os espanhóis (invasores), os rio-grandenses criaram um modo particular de vestir, falar e agir, que pouco se diferenciava das características típicas dos “gauchos” (lê-se ‘gáutxos’ em espanhol) dos pampas cisplatino e platino. Os hábitos do churrasco, do chimarrão, da indumentária e quase toda a tradição permaneceram muito semelhantes após todo o período de ebulição, mas a língua foi diferenciando-se. Numa tentativa de mostrar para os “castelhanos” que falavam português e para os “imperialistas” que falavam espanhol, adicionando-se muitas expressões indígenas e algumas africanas,  surgiu uma linguagem híbrida, compreendida por todas as partes envolvidas no período, mas impossível de ser dominada por um “chucro”. Marcado pela grande ligação afetiva do gaúcho por seus animais, a maioria das expressões que se referem a animais, também se referem às pessoas. A formação do dialeto se dá, basicamente, por:
  1. vocábulos hispano-luso-indígenas
  2. aumentativos e diminutivos hispânicos
  3. escrita lusitana
  4. pronúncia baseada no português, mas lida como no espanhol
  5. falta de uma gramática oficial, mantendo o dialeto constantemente mutante e flexível
  6. A pronúncia do “o” e do “e” são feitas como no Espanhol quando se alterariam para “u” e “i” no Português.
  7. O diminutivo “inho” quase sempre e substituído por “ito”, mas há casos onde sobrevive. Recorde-se que não há regra oficial para a fala campeira e que a maioria das pessoas sequer sabem que não falam Português nem Espanhol.
  8. O pronome “lhe”, quase sempre é pronunciado “le”.
  9. Há uma grande dificuldade entre os nativos para saberem quando pronunciar “b” ou “v”, pois flutuam entre a gramática portuguesa e espanhola.
  10. As palavras que têm dupla escrita de “x” ou “ch”, têm no “ch” sua escrita castelhana e “x” lusitana (galega).
                                  Algumas expressões típicas da gauchada:
  • Abichornado – crioulo – acovardado, apequenado.
  • Afeitar – espanhol – fazer a barba
  • Âiga-te (âigale-te) – espanhol – interjeição de surpresa que enaltece o que foi ouvido; âigate.
  • A la pucha (a la putcha) – espanhol – interjeição de surpresa que enaltece o que foi ouvido; âigate.
  • Alcaide – provavelmente espanhol, pois tem significado muito oposto do homônimo português, oriundo do árabe – cavalo velho, ruim inútil; serve para pessoas também.
  • Andar a/pelo cabresto – português – o mesmo termo que designa a condução do animal, indica que alguém está sendo conduzido por outro.
  • Andar de rédea solta – português – também se referindo a pessoas, significa que alguém não sofre controle estrito de nada nem ninguém; um momento de folga.
  • Bagual – crioulo – cavalo que não foi castrado; homem.
  • Balaquear – crioulo – gabar-se, mentir, conversar fiado; vanguardar-se.
  • Barbaridade – português – barbarismo. Tanto adjetiva como pode ser uma interjeição de espanto.
  • Bate-coxa – português – baile, dança.
  • Bombacha – espanhol platino – peça (calça) que caracteriza a indumentária gaúcha. Tem origem turca e foi introduzida na América pelos comerciantes ingleses, de presença marcante no pampa platino.
  • Buenacho – espanhol – muito bom, excelente; bondoso, cavalheiro.
  • Campanha – português – planície rio-grandense; pampa.
  • Capilé – francês – refresco de verão, feita com um pouco de vinho tinto, água e muito açúcar.
  • Castelhano – espanhol – indivíduo oriundo de Uruguai ou Argentino
  • Cevador – português – pessoa que prepara o chimarrão e o distribui entre os que estão tomando.
  • Charque – espanhol platino – carne de gado, salgada em mantas.
  • Chasque – quíchua – mensageiro, estafeta.
  • Chiru (xiru) – tupi – índio velho, indivíduo de raça cabocla.
  • Chucro (xucro) – quíchua – animal arisco, nunca domado; pessoa de mesmo temperamento ou sem empirismo, inexperiente.
  • Cusco – espanhol platino, provavelmente já emprestado do quíchua – cachorro pequeno e de raça ordinária (ou sem); guaipeca.
  • De orelha em pé – português – da mesma forma que o animal de sobreaviso ergue as orelhas, tal supõe-se faça o homem.
  • Engasga-gato – português – ensopado feito com pedaços de charque da manta da barrigueira.
  • Garupa – francês - A parte superior do corpo das cavalgaduras que se estende do lombo aos quartos traseiros; também usado para definir a mesma área no corpo humano.
  • Gaúcho – origem desconhecida – termo, inicialmente, utilizado de forma pejorativa para descrever a cruza ibero-indígena, hoje é o gentílico de quem nasce no estado do Rio Grande do Sul.
  • Gauchada – crioulo – grande número de gaúchos; façanha típica de gaúcho, cometimento, muito arriscado, proeza no serviço campeiro, ação nobre, impressionante.
  • Gauderiar – espanhol platino – vagabundear, andar errante, sem ocupação séria; haragano.
  • Gaudério – espanhol platino – vagabundo, desocupado, nômade. Atualmente, é uma referência estadual ao povo da campanha, simplesmente, como gaúcho.
  • Guaiaca – quíchua – invenção gauchesca que se usa sobre o “cinturão europeu”. Significa bolsa em sua língua original.
  • Guaipeca – tupi – cachorro pequeno e de raça ordinária (ou sem), cusco.
  • Guri – tupi – criança, menino; serviçais que faziam trabalho leve nas estâncias.
  • Haragano – espanhol – Nômade, renitente; cavalo que dificilmente se deixa agarrar.
  • Japiraca – tupi – mulher de temperamento irascível, insuportável.
  • Jururu – tupi – triste, cabisbaixo, pensativo.
  • Macanudo – indicado como sendo espanhol platino – bom, superior, poderoso, forte, inteligente, belo rico, respeitável; um adjetivo positivo de uso genérico.
  • Mate – quíchua – bebida preparada em um porongo, com erva-mate e água quente; chimarrão.
  • Minuano – indicado como sendo espanhol platino – vento andino, frio e seco, que sopra do sudoeste no inverno.
  • Morocha – espanhol platino – moça morena, mestiça, mulata; rapariga de campanha.
  • Nativismo – português – amor pelo chão onde se nasce e sua tradição.
  • Orelhano (aurelhano) – espanhol platino – animal  sem marca nem sinal; também serve para pessoas.
  • Pago – espanhol/português – lugar onde se nasceu. Como o gaúcho original era um nativo descendente de imigrantes e não pretendia deixar seu solo em hipótese alguma, o termo também designa, genericamente, a região da Campanha.
  • Pampa – quíchua – vastas planícies do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, coberta de excelentes pastagens que servem para criação de gado. Em quíchua, “pampa” significa “planície”.
  • Paisano – português/espanhol – patrício, amigo, camarada; camponês e não-militares.
  • Pêlo duro – espanhol – crioulo, genuinamente rio-grandense; também significa pessoa ou animal sem estirpe.
  • Poncho – origem incerta, araucano ou espanhol – espécie de capa de pano de lã de forma retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, para a passagem da cabeça.
  • Puchero (putchero) – espanhol – sopão com muito vegetal e carne de peito, sem tutano e sem pirão.
  • Querência – espanhol – o lugar onde se vive. Derivado de “querer”, caracteriza o amor que o gaúcho tem pela sua terra.
  • Tapejara – tupi – vaqueano, guia ou prático dos caminhos; gaúcho perito, conhecedor da região.
  • Tchê – provavelmente espanhol – termo vocativo pelo qual se tratam os gaúchos. É o mesmo “che” (‘txê’) do espanhol, que se consagrou com Ernesto Guevara, o “Che”.
  • Topete – português/espanhol – audácia, arrogância, atrevimento; saliência da erva-mate que fica fora d’água na cuia de chimarrão.
  • Tropeiro – português/espanhol – condutor de tropas, de gado.
Abaixo, alguns trechos dos Contos Gauchescos, livro publicado em 1912 e que, apesar do tempo passado, permanece atual, pois a linguagem pampeana não se modificou muito ao longo dos anos, devido ao relativo isolamento. Perceba-se que quando Simões Lopes Neto escreveu, não fazia a mínima idéia de que narrava histórias em um dialeto e tenta adequar o texto à gramática brasileira da época.
“Ah! Esqueci de dizer-lhe que andava comigo um cachorrinho brasino, um cusco mui esperto...”
Seguindo a regra do Espanhol, há “mui” e “muito”, utilizados nas mesmas condições do Espanhol. Contudo, essa é uma frase muito mais próxima do Português que a maioria das outras frases gaúchas, pois utiliza o verbo “esquecer” (mais usual “olvidar”) e o diminutivo “inho” (mais usual “ito”).
“Chinoca airosa,
Lindaça como o sol, fresca como uma rosa”
Tanto as desinências “oca” e “aça” quanto o adjetivo “airosa” são advindos do Espanhol, e utilizados largamente.
“Nisto, um aspa-torta, gaúcho mui andado no mundo e mitrado, puxou-me pela manga da japona...”
A ênclise utilizada pelo autor não visa a adequar-se ao português culto, até porque o livro é uma narrativa em primeira pessoa, mas retrata sua utilização natural pelo gaúcho.
“Cuê-pucha!... é bicho mau, o homem. Conte vancê as maldades que nós fazemos (...), nunca me esqueço dum caso que vi e que me ficou cá na lembrança e ficará té eu morrer”
O “vancê”, embora não esteja de acordo com a regra gramatical, indica a utilização dos pronomes pessoal (tu) e de tratamento (você) em situações claramente definidas, ao contrário do Português Brasileiro e de acordo com o Português Europeu e o Espanhol Castelhano. Quando diz “que me ficou”, utiliza o pronome “me” onde, seguramente seria utilizado por um hispânico, e não o seria por um luso-brasileiro.
“O outro, o ruivo (...), vinha todo de preto, com um gabão de pano piloto (...) e de botas russilhonas, sem esporas”.
“Pela pinta devia ser mui maturrango.”
Ruivo, não corresponde ao “ruivo” do Português (cabelo avermelhado), mas ao “rubio” do Espanhol (loiro).
“E baixinho, fuzilando nos olhos, boquejou-me: - aquele é o imperador, se te enredas nas quartas, defumo-te”.
Novamente, o jogo de próclises e ênclises assentadas naturalmente pelos nativos e ignorados na língua falada brasileira.
“Desde 45, no Ponche Verde; fui eu que uma madrugada levei a vossa excelência um ofício reservado, pra sua mão própria... e tive que lanhar uns quantos baianos abelhudos que entenderam de me tomar o papel... Vossa excelência mandou-me dormir e comer na sua barraca, e no outro dia me regalou um picaço grande, mui lindo, que...”
“Regalou”, “picaço” e “mui lindo” sustenta a regra informal de orientação da linguagem falada no pampa. Alguns versos da música “O Esquilador”:
“Quase um pesadelo arrepia o pelo
Do couro curtido do esquilador
Ao cambiar de sorte levou um cimbronaço
Ouvindo o compasso tocado a motor”
 
“Envidou os pagos numa só parada
"Trinta e três de espadas" mas perdeu todas de mão
Nesta vida guapa vivendo de inhapa
Vai voltar aos pagos para remoçar”
 

HOROSCOPO GAÚCHO


                                             HORÓSCOPO GAÚCHO

                                             Conheça o teu signo, mas com um sotaque sulista…   
            
Áries – Bicho mais fogueteiro e metido não tem. Ele atropela todo mundo que nem bagual solto em feira de porcelana. Tem a mania de ser sempre o primeiro. E é… o primeiro loco!
Touro – Esse quer ser o maior dos latifundiários. Quer ser o dono dos rebanhos, da estância e das plantações. Se bobear, invade o planeta inteiro. Mas tem desculpa é ele quem dá o churrasco, faz as trovas, declama e toca a gaita. Êta, índio animal.
Gêmeos – O vivente só quer assuntá. Sabe de tudo, e sabe contá causo que é uma beleza. Não esquenta banco e parece que tem bicho carpinteiro.
Câncer – Esse é chorão que é um inferno. Tem uma memória do cão, se lembra tintim por tintim quem ganhou cada Califórnia e cada Gre-Nal, e sabe de cor tudo o que tu disse pra ele naquele 4 de maio de 1984. Mas é o dono da posada e o que te prepara o putchero nas noites de minuano. É dos piores.
Leão – Foi por causa desse que inventaram o tal de complexo de superioridade. Bicho mais convencido, não há. É o primeiro prêmio em interpretação nos festivais, arrasa na chula, é a mais bela prenda e o rei do gado. Exige respeito e não consegue ficar na mesma sala com uma TV ligada, pois não admite concorrência. Vai sê o chefe da ala dos Napoleão lá no São Pedro.
Virgem – Virge! Cruzes! Esse é roxo por limpeza. Tu acaba de assá um churrasco e ele já tá lavando os espetos. Tem cuia própria pro mate porque é mais higiênico, e tá sempre de vassoura na mão. Parece normal, mas é dos mais maníacos.
Libra – É danado de namorador. Só quer pezinho pra cá e pezinho prá lá. Não faz outra coisa. Também adora se metê em política, mas só fica olhando, em cima do muro, enquanto a indiada dá um duro aqui embaixo. Metido a aristocrata, come churrasco com garfo e faca e usa guardanapo. Nem sei se não usa cuecão de florzinha por baixo das bombacha, mas pode ir tirando o cavalinho da chuva, porque é só frescura. Ele não é veado.
Escorpião – O loco dos loco. Pra puxá o facão não faz cerimônia. Mas, depois de todo o estardalhço, fica com uma cara de culpado e arrependido, que irrita até a mãe dele. Não perde a mania de mexer nos trauma… dos outros. O velho Freud, que também não era dos mais normal. Esse nem com banda…
Sagitário – O índio aqui acha que é o verdadeiro centauro dos pampas, citado várias vezes pelos nossos historiadores. Se perdeu do seu bando e não sabe se foi perto de Vacaria ou de Pelotas, de tão loco. Se alguém quiser se comunicar com ele, é pelo e-mail: coice.de.mula.barbaridade.ctg.alafresca.tche@pampa.com.rs
Capricórnio – Esse é o introvertido. Metido a tímido, mas foi ele quem descobriu o complexo de inferioridade. Não quer incomodar, e pra fazê ele entrá no rancho ou se chegá pra roda de chimarrão é um custo. Não se acha nada, sonha com ele no futuro, que é quando ele acha que vai existir. Outro que só internando.
Aquário – Ele qué mudá o mundo. Não muda nem as tela dos galinheiro e as lâmpada queimada. Adora uma revolução, um protesto ou deixá o povaréu de cabelo em pé. No fundo o que ele quer é aparecer.
Peixes – Já esse, o que quer é desaparecer. Vive com a cabeça nas nuvens, viajando… Diz que conversa com o Boitatá, já viu o Negrinho do Pastoreio, e recebe o Sepé Tiaraju. Mas o que tem de doido tem de bonzinho. É só não contrariar.

A ORIGEM DO CHARQUE


 

                                                        AS CHARQUEADAS

                                                      Charqueada Santa Rita

No século 18, enquanto ocorria o ciclo econômico da mineração no Brasil envolvendo os estados de Minas Gerais, Goiás  e Mato Grosso, havia uma crescente valorização do rebanho de gado existente no Rio Grande do Sul, introduzido pelos jesuítas no século 17. Os bois serviam para a alimentação e as mulas para o transporte dos mineradores.

Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará , sob a forma de carne de sol ou carne do sertão. 

Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância.

Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial em Pelotas, dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737.

Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates.

                                                              Charqueada São João
 

A consolidação das charqueadas, grandes propriedades rurais de caráter industrial, só se dá no século XIX, às margens dos arroios Pelotas, Santa Bárbara, Moreira e canal São Gonçalo. O gado, matéria-prima, era proveniente de toda a campanha rio-grandense, introduzido em Pelotas através do Passo do Fragata e vendido na Tablada, grande local dos remates na região das Três Vendas.

Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como a Charqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque.

Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros.

Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila.

                                                          Armazém de charque –
 
O charque era utilizado para alimento dos escravos em todo o Brasil e nos países que adotavam o sistema escravista, sobretudo o Caribe (Cuba, principalmente). Do gado, se aproveitava tudo: o couro, o pó dos ossos para fertilizante, o sangue para gelatina, a língua defumada, os chifres para várias utilidades. Esses produtos eram exportados para toda a Europa e os Estados Unidos.

O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade".

A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas.

Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência."

Em 1820, eram 22 charqueadas e, em 1873, 38. Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por anohttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png. Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam.

Os Barões do Charque

O poder dos charqueadores pelotenses foi oficialmente consolidado a partir de 1829, quando o imperador Dom Pedro I outorgou o primeiro título de nobreza a um fazendeiro do ramo. Coube a Domingos de Castro Antiqueira, proprietário da Charqueada do Cascalho - localizada na margem direita do arroio Pelotas - ostentar um título nobiliário em Pelotas: o de Barão de Jaguari. Antiqueira, foi também o primeiro e um dos únicos a ascender na hierarquia da nobreza brasileira, quando em 1846 foi declarado Visconde de Jaguari.

Até o final do período imperial, dez charqueadores receberam títulos de nobreza. "A outorga do baronato, que tinha como condição, quase sempre, certa fortunahttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png acumulada, significava o reconhecimento oficial da Monarquia ao poder e ao prestígio de quem era agraciado".

Além de Antiqueira, apenas João Simões Lopes ascendeu à condição de visconde e passou para a história como o Visconde da Graça, em uma referência direta a sua propriedade, a Charqueada da Graça, localizada na margem esquerda do arroio Pelotas.

O Fim do ciclo do Charque

As causas do encerramento do ciclo do charque foram várias. Uma das principais, a abolição dos escravos, quando deixa de existir o verdadeiro consumidor do produto. A concorrência de regiões gaúchas que antes apenas produziam a matéria-prima também foi outro golpe contra os charqueadores locais. "Depois de 1884, fundaram-se charqueadas em algumas cidades da fronteira, porque nesse ano estabeleceu-se a linha férrea, que permitia o escoamento do produto até o porto de Rio Grande."

O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz".


                                                        

LENDAS GAÚCHAS





 

                                                      LENDAS GAÚCHAS

                                                    O que é lenda? Porque o povo conta lendas?
Estas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário: lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las é fundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.
Estudar as lendas, portanto, é fundamental.
As lendas são histórias do País contada pelo seu povo. A lenda é local e se localiza no tempo obrigatoriamente.
O povo conta lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar as suas memória. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a Psicanálise descobrisse o divã do analista.
Depor sobre nós mesmos é catártico e o folclore tem a vantagem sobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dos porquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo, em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o Folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.



                                          João de Barro


João de barro   
 
 
Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza.
 Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento.
O pai dela perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.
O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado.

O velho ordenou que se desse início à prova.
Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado.

 A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor.
O tempo foi passando.
Certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
O velho respondeu:
- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
E esperou até até a última hora do nono dia.

 Então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica.

Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre.
Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes.

 E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

EL PINTOR DE LA PAMPA


                                                  O PINTOR DE LA PAMPA
                                                   CARLOS MONTEFUSCO
                     EL PINTOR QUE RETRATA LA ESENCIA DE LA VIDA GAÚCHA.



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Considerado por muchos el continuador de la obra de Don Florencio Molina Campos, Carlos Montefusco decidió hace ya veinte años tomar la posta de aquel gran artista argentino
y de tantos otros representantes de nuestra pintura costumbrista como Eleodoro Marenco, Prilidiano Pueyrredón, León Palliere, Rugendas o Monvoisin. Lo une a todos ellos el cariño y la admiración por nuestra gente de campo y por la historia de su Patria.
Fue en su niñez en Avellaneda, cuando conoció los horizontes ilimitados al descubrir la costa del Plata, y tomó contacto por vez primera con la creación divina. Allí la naturaleza enraizó en su alma para siempre.
Contrariamente al gran interés que su obra despierta en el público, sus trabajos originales son muy difíciles de ver por hallarse diseminados entre muchos coleccionistas particulares, tanto argentinos como extranjeros.

En resumen, quien se detenga frente a una obra de este artista argentino viajará por la historia del Río de la Plata, aprenderá los secretos de la vida rural de antaño, se transformará en conocedor de las tareas camperas y llegará a convertirse en un experto en flora y fauna nativa. Todo aderezado con humor, que se desprende de la sutil caricatura que emana de su pincel. 
 

FACAS DE TESOURAS DE TOSQUIA


                                                TESOURAS DE TOSQUIA

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Tesouras de tosquiar, esquilar, tosar ou outra denominação dada às tesouras utilizadas no corte da lã de ovelhas. Há mais de um século essas tesouras foram empregadas na tosquia de ovelhas no Rio Grande do Sul e pelo mundo a fora.
Por o nosso clima ser frio e de boas pastagens de campo nativo, o Rio Grande do Sul possui o maior rebanho de ovelhas do País e certamente também o maior acervo de tesouras de tosquiar.
Com o avanço das técnicas de trabalho e a evolução das ferramentas, antigas tesouras de tosquiar foram substituídas por máquinas com maior desempenho, e esquecidas nos velhos galpões das fazendas.
 
         DOS GALPÕES DAS ESTÂNCIAS PARA A CINTURA DOS GAÚCHOS
 
Já a muito tempo, de forma totalmente artesanal, essas antigas tesouras passaram a ser transformadas em belas facas, verdadeiras ferramentas de trabalho nas mãos dos homens da lida do campo.
As tesouras importadas, produzidas com aço carbono de alto teor, com ligas semelhantes às encontradas nas facas Inglesas e Alemãs da época, despertaram o interesse dos ferreiros e artesãos cuteleiros da zona da campanha no interior do Estado, profissionais qualificados que passaram a transformá-las em facas de excelente qualidade.
 
DESTAQUE ESPECIAL NA CUTELARIA GAÚCHA
A transformação das tesouras de tosquiar em facas, é tarefa trabalhosa e requer profundos conhecimentos na arte da Cutelaria Artesanal.
Algumas características no seu formato original se destacam por exemplo: a tesoura tem curvatura no sentido da ponta e do dorso para o fio e não apresenta toda a dureza que a composição este aço pode oferecer, por desnecessário para o uso das tesouras no oficio da tosquia.
Na transformação da tesoura para a faca, alguns procedimentos são executados para que se obtenha o produto final, a tão desejada faca de tesoura de Tosquia:
  1. Destemperadas
  2. Batidas
  3. Recortadas
  4. Formatadas
  5. Retemperadas
  6. Polidas
  7. Encabadas
  8. Afiadas
 
Os antigos métodos de tempera foram substituídos por tratamento térmico em modernos fornos permitem que o aço das tesouras Inglesas e Alemãs atinjam de 57 a 59 HRC (medida de dureza), possibilitando que esta transformação seja ainda mais satisfatória.