quarta-feira, 28 de junho de 2017

LENDAS GAÚCHAS





 

                                                      LENDAS GAÚCHAS

                                                    O que é lenda? Porque o povo conta lendas?
Estas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário: lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las é fundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.
Estudar as lendas, portanto, é fundamental.
As lendas são histórias do País contada pelo seu povo. A lenda é local e se localiza no tempo obrigatoriamente.
O povo conta lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar as suas memória. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a Psicanálise descobrisse o divã do analista.
Depor sobre nós mesmos é catártico e o folclore tem a vantagem sobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dos porquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo, em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o Folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.



                                          João de Barro


João de barro   
 
 
Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza.
 Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento.
O pai dela perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.
O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado.

O velho ordenou que se desse início à prova.
Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado.

 A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor.
O tempo foi passando.
Certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
O velho respondeu:
- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
E esperou até até a última hora do nono dia.

 Então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica.

Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre.
Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes.

 E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

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