quinta-feira, 1 de agosto de 2013

HORNERO


              HORNERO É O REI DOS CAVALOS

        Estatísticas da progênie de La Invernada Hornero

 


Caro leitor do Cavalo Crioulo, tenho tido a satisfação de estudar as linhagens mais importantes da Raça Crioula no Brasil nos últimos 25 anos.
Preciso mencionar que todas as descrições e análises que apresento aqui se referem exclusivamente ao Freio de Ouro. Não há estudos relativos às exposições morfológicas da Expointer, o que talvez eu venha a fazer no futuro, a partir de outubro. Quero dizer, também, que não tenho enfatizado o caráter probabilístico-preditivo das análises, mas sim o de contar a história do Freio de Ouro através dos números. Nesta edição, meu propósito é apresentar os resultados de La Invernada Hornero: o chefe-maior da Raça Crioula no Brasil e – se tenho direito a opinar – também na América. Eu explico. O cavalo n.º 1 do Chile é Casas de Polpaico Estribillo, assim considerado porque 37% de seus filhos participaram no campeonato nacional do Chile e porque é pai de vários campeões (como Reservado, Lechon, Escorpión, Estribillo II, Estimulada e Esquinazo). Se acreditarmos que o Freio de Ouro é uma competição mais exigente do que a chilena, se considerarmos que 38% dos 111 premiados nesta competição eram filhos de Hornero, se lembrarmos ainda que em torno de 33% dos filhos de Hornero contribuíram para sua pontuação no Registro de Mérito; então, sem sombra de dúvidas, Hornero foi um pai muito superior ao grande Estribillo. Além do mais, vale considerar que filhos de Hornero foram campões de 12 exposições morfológicas da Expointer desde 1987 (34%).
João Vicente Sá me lembra, com muita propriedade, que pelas características e exigências de cada uma das competições (a chilena e a brasileira), não há como comparar verdadeiramente esses dois excepcionais cavalos crioulos pelo fato de terem padreado em países diferentes e em criatórios com estrutura, propósitos e matrizes diferentes. Com o que concordo: Não há como saber! Minha suspeita é que, se os irmãos Bastos Tellechea e Dirceu Pons tivessem importado Estribillo ao invés de Hornero, talvez este texto de hoje não fosse sobre o tordilho, e sim sobre o cavalo preto; eu tenho razões para supor, contudo, que os resultados não lhe seriam tão favoráveis, porque na competição brasileira a morfologia é critério de avaliação.

Sobre essa questão da morfologia, Mariano Lemanski comentava comigo que a ‘febre’ de importação de chilenos puros que não atendem aos critérios estabelecidos para a raça no Brasil (seleção integral) é injustificável. E que isso deverá afetar a morfologia dos animais brasileiros e, em conseqüência, a sua avaliação nas competições da ABCCC. As evidências que colhemos na análise publicada na edição de dezembro último apontam para essa direção, ao detectar que quanto maior a taxa de sangue chileno, menor a avaliação morfológica. Por isso (e por outras razões também), a análise estatística selecionou como o melhor cavalo para o Freio de Ouro, o híbrido chileno (de ½ a ¾ de sangue). Assim, da ótica do Freio de Ouro, só teria sentido importar animais puros para a reprodução, para a produção de mestiços. Parecem ser esses os critérios adotados por cabanhas vitoriosas como São Rafael, Paineiras, Santa Edwiges, Santa Angélica, entre outras. Não quero dizer com isso que não devêssemos trazer animais do Chile, mas penso que deveríamos trazer apenas os animais de exceção daquele país, que têm condições efetivas de levar o plantel brasileiro a atingir seu objetivo de seleção. E já que me dei o direito de opinar: os chilenos puros produzidos em cabanhas brasileiras (como Itapororó e 38, por exemplo), porque tomam em consideração o equilíbrio entre função e morfologia, estão muito mais aptos a suprir as exigências da nossa competição do que grande parte dos importados d’além Cordilheira dos Andes. Dois bons exemplos disso são ‘Jalisco de Santa Angélica’ e ‘Festeiro do Itapororó’.

DESCENDÊNCIA VITORIOSA

Para este estudo, analisei a 5ª geração de todos os 111 premiados desde 1982. Além dessa amostra, me baseei na árvore genealógica de 395 animais dos 408 classificados para as finais dos Freios de Ouro de 2000 a 2005. Somadas, as duas amostras contêm 5as gerações de 470 cavalos crioulos.
Em relação ao papel desempenhado por Hornero, há uma distribuição irregular dos dados na amostra dos 111 premiados desde 1982, que pode ser dividida claramente em duas fases: uma anterior a 1995 e outra posterior. Até aquele ano, 67% de seus filhos eram ½ sangue, fruto de cruzamentos com éguas sem sangue chileno, principalmente rio-grandenses. A partir de 1996, tendem a aparecer com maior freqüência (75%), entre os vitoriosos, filhos seus com em torno de ¾ de sangue. De seus 22 filhos vencedores ½ sangue, 82% obtiveram premiação até 1995. Não houve filhos premiados em 2004 e 2005. Esse quadro é parcialmente explicado pela ausência de Hornero há quase 10 anos. A tendência natural é que, até 2009, apareçam poucos filhos seus entre os premiados, mas devemos continuar a ver seus netos brilhando.
Entre os 395 animais classificados para as finais dos Freios de Ouro de 2000 a 2005 analisados, estiveram presentes 79 filhos, 125 netos, 65 bisnetos e 13 tataranetos de La Invernada Hornero. Isto é, 72% dos finalistas tinham seus gens e mais da metade eram ou filhos ou netos desse excepcional raçador. Nesse período, iguais 72% de descendentes seus foram premiados (8 filhos, 10 netos e 5 bisnetos). Uma forma possível de ler esses resultados é que, embora a taxa de descendentes de Hornero seja a mesma entre finalistas e premiados (72%), há proporcionalmente maior participação de filhos do que de bisnetos de Hornero entre os ganhadores de ouro, prata e bronze. O que pode significar que quanto maior o grau de parentesco com Hornero, maiores tenham sido as chances de premiação.
Essa constatação é corroborada pelos resultados comparativos das provas funcionais e morfológicas desses 395 animais. Os filhos têm desempenho superior aos animais com menos ou nenhum sangue de La Invernada Hornero. O Gráfico demonstra que decresce a média funcional à medida que decresce o grau de parentesco com Hornero. O mesmo acontece com o desempenho morfológico, já que a média dos filhos (7,2) é superior ao 7 obtido por netos e bisnetos (os animais sem parentesco com Hornero obtiveram média morfológica de 7,1).

Gráfico 1 – Desempenho funcional médio dos finalistas dos Freios de Ouro de 2000 a 2005 por grau de parentesco com Hornero
É exatamente isso, também, o que mostra a história do Freio de Ouro. Dos 111 prêmios distribuídos desde 1982, se considerarmos apenas o parentesco em maior grau com Hornero, veremos que, dentre os ganhadores de ouro, prata ou bronze, havia: 42 filhos (38%), 15 netos (14%) e 8 bisnetos (7%) – não havia tataranetos exclusivos entre os premiados. Desses 42 filhos de Hornero, 14 ganharam o Freio de Ouro, 16 de Prata e 12 de Bronze.
Talvez seja por isso que – quando perguntamos ao Ricardo Pinto Torres (técnico da ABCCC e profundo conhecedor da raça crioula) sobre qual sangue deve ter um produto da nossa criação – ele responda: “Hornero! Sempre Hornero!”

PAI DE BONS PAIS
Dentre os filhos premiados de La Invernada Hornero, alguns se destacaram também como pais: Nobre Tupambaé, BT Brazão do Junco e Butiá Arunco foram Freio de Ouro e tiveram filhos premiados e finalistas nas últimas 5 edições (ver quadro). BT Faceiro do Junco, BT Butiá e BT Bailongo foram premiados e tiveram vários filhos finalistas. BT Hobby do Junco e Chicão de Santa Odessa não foram premiados, mas seus filhos o foram. BT Delantero, Entrevero Charrua, BT Cara e Coroa e BT Favorito tiveram mais de um filho finalista no período pesquisado.


QUADRO 1 – Os filhos de Hornero que produziram finalistas ou premiados no Freio de Ouro
Como já escrevi na edição passada, tanta competência em um só cavalo talvez tenha explicação no processo endogâmico do qual é resultado. Pela concentração de gens, Hornero tem, na prática, dez avós: quatro naturais (Vastago, Noche Buena, Sanción e Coiron III, do qual é também bisneto) e outros seis por consangüinidade (Guarda, Madrigal, Curanto, Alfil II, Angamos e Beduíno 2), todos importantes no Chile, sem exceção. Além disso, podemos hipotetizar que Hornero, além dos naturais, teria outros quatro bisavós extraordinários: Africano, Azahar, Mezcla e Cristal 1.
Pelo muito que já se falou sobre as qualidades de La Invernada Hornero e por tudo o que foi dito aqui, é que lhe fazemos reverência. A raça crioula é pródiga em cavalos de lei. A cada ano surgem de seis a dez animais excepcionais, a maior parte deles com seu sangue. Desde que chegou ao Brasil, Hornero provocou uma revolução genética, criou uma dinastia. Portanto, já que seu melhor filho é Nobre, podemos proclamar com toda a convicção, como está dito nos versos de Rodrigo Bauer cantados por Joca Martins…
“Desde então, por onde ande, HORNERO É O REI DOS CAVALOS!”

Mais detalhes sobre o Hornero podem ser encontradas no site da ABCCC e da Cabanha BT.

Registro do “Hornero” no Site da ABCCC
000532 – LA INVERNDA HORNERO
Sexo: Macho
Pelagem: Tordilho
Data Nascimento – 08/11/1971
Data Falecimento – 25/08/1997



INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:
*Os irmãos Bastos Tellechea importaram o Hornero em 1976
*Hornero o tordilho de pechar touro não teve participação direta em freio de Ouro
*A 1º edição do Freio de Ouro acontece em 1982, Itaí Tubambaé foi o vencedor
*Nobre Tupambaé vence o freio de Ouro de 1990 e confirma seu pai Hornero como o melhor Crioulo da história brasileira. Nobre é conduzido pelo ginete Wilson Souza
*Mais de 70% dos vencedores do Freio de Ouro tem Sangue de Hornero.

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