quinta-feira, 8 de agosto de 2013

DE OUTRO MUNDO

 
                                  "Causos de João Furtuoso"
 
 
João Furtuoso é protagonista das narrativas ambientadas na zona rural, mais precisamente em um lugar chamado Bom Jardim, palco da difusão dos costumes, dos afazeres e da linguagem utilizada pelas gentes que marcam e mantêm acesa a cultura gaúcha.
Numa manhã de outono, três bezerros amanheceram mortos nos campos da Estância do Minuano. Pelo rastro, tratava-se de um animal desconhecido, o que impôs à peonada a atenção redobrada. Enquanto os peões mantinham os olhos bem abertos nas mangueiras e potreiros, o estranho bicho assaltava o chiqueiro na calada da noite, subtraindo uma dezena de porcas com crias.
Instigados pela ousadia do estranho animal, os homens não se cansavam na preparação de armadilhas que aprisionassem o indesejado visitante, e assim varavam noites a fio, atentos aos estalos de galhos, ao farfalhar das folhas, a qualquer movimento que o denunciasse. Mas nada...
Em uma tarde chuvosa, o vizinho Niza chegou à Fazenda do Minuano com os olhos arregalados, apeou de seu cavalo marchador para relatar a perda de duas ovelhas premiadas e de duas dúzias de galinhas carijós poedeiras.
Instalou-se o medo nas redondezas, principalmente depois de correr boatos de que o animal farejava embaixo das portas e até forçava janelas fechadas a trancas. Suspenderam-se os fandangos do Bom Jardim e uma das festas no salão da igreja. Os piás só brincavam sob a vigilância implacável das mães, que aprenderam na marra a manejar armas já esquecidas no fundo de baús. Era visível a perturbação no rosto de todos - mais ligados que rádio de preso e mais nervosos que potro com mosca no ouvido.
Conta-se que João Furtuoso e Tenório, em uma sesta continuada pelos demais, levantaram de mansinho, encilharam o zaino e a tordilha, decididos a capturar o animal que roubara a tranquilidade daqueles pagos. Andaram que andaram, até que próximo a um desfiladeiro avistaram um estranho animal rondando o premiado touro da Estância do Minuano, por quem o patrão Antônio Balta gastara rios de dinheiro. Montados em seus possantes animais, apoiaram-se firmes nos estribos, afrouxaram as rédeas, esporearam suas montarias com energia e se lançaram determinados ao encalço da fera devoradora. Um tremor de espanto, de ódio e de bravura dominou-lhes a alma. E na corrida desesperada (que barbaridade!), não viram galhos, nem pedras, nem buracos. Voavam em direção ao célere monstro que, acuado, erguia-se sobre as duas patas, o que o tornava ainda maior e mais assustador. O estranho animal soltou um grunhido ecoante e descomunal. Os dois peões bolearam a perna e, sem medir o tamanho do perigo, atiraram-se como loucos sobre o animal, desferindo-lhe cutiladas certeiras, enquanto a fera tentava em vão varar-lhes o ventre com suas garras afiadas. Ao cabo de pouco tempo, mas que pareceram horas, o animal tombou inerte sobre o solo rochoso.
Os dois peões chegaram triunfantes à Estância do Minuano, já bem à tardinha, puxando um estrado em que jazia o devorador de bois, carneiros, galinhas, porcos - animal nunca visto nem em sonhos nem em contos de Simões Lopes Neto.
Destrancaram-se janelas e portas, desarmaram-se homens e mulheres, soltou-se a piazada para as brincadeiras de sempre e abriram-se as portas dos bailes do Bom Jardim.
— Credo, homidideus, quianimalzinho metido a colhudo, hein?! — disse dessa vez Furtuoso, levantando a aba do chapéu de barbicacho, examinando as roupas esfarrapadas e medindo a extensão dos arranhões, enquanto a paisanada suspirava aliviada.



       Mas quem disse que é fácil né tchê, se fosse fácil era chamado de politico...

É DURO MAS É LARANJA DIZIA UMA VÉIA CHUPANDO UMA BOCHA AMARELA

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