quarta-feira, 29 de maio de 2013

CRIOULO A RAÇA, A PROPAGANDA E O MERCADO.




                                      A RAÇA, A PROPAGANDA E O MERCADO.

               

                A comercialização é parte vital da indústria do cavalo, a exemplo de qualquer atividade econômica, os investimentos em genética, manejo, alimentação e treinamento dependem diretamente de seus resultados.
É correto afirmar e fácil de entender, que a agilidade e a liquidez do mercado são fatores preponderantes que refletem e influenciam diretamente na seleção e no melhoramento de uma raça.
O Cavalo Crioulo não escapa à regra, há uma correlação estreita entre a comercialização e o melhoramento genético, de tal ordem, que quando aquecido há o risco do mercado passar a determinar o destino da seleção; na medida em que passamos a produzir aquilo que o “mercado” está desejando.
Do ponto de vista eminentemente comercial esse é o processo normal de expansão, através do crescimento das vendas, e consequentemente na maximização dos lucros, que em última análise impulsionam os investimentos e fazem “a roda econômica girar”.  
O combustível de toda essa “máquina” chama-se consumidor, cliente ou comprador, sem ele não há comercialização, as vendas desaparecem e consequentemente somem os investimentos.
O convencimento de que determinado animal vai realizar aquilo que o comprador “idealizou” é o ponto básico do impulso da compra, agregado a outro fator que produz esse convencimento estimulando a compra: A PROPAGANDA.
Os leilões transmitidos pela mídia além do propósito central da venda transformaram-se em meio de divulgação e propaganda, os leiloeiros em “garotos propaganda” de um grande comercial que dura quase duas horas (uma eternidade em termos de televisão).
A atuação primorosa de nossos leiloeiros extrapolaram o simples manejo do martelo, passaram a propalar argumentos que se transformam em “verdades”, alguns pelo seu bom conteúdo, outros nem tanto mas que pela insistência da repetição.

                Há casos hilariantes, como aquele que o leiloeiro relacionou o parentesco de um produto na pista com sendo CUNHADO (embora não tenha usado essa palavra) de um Grande Campeão da Expointer.
 Logicamente o fez a título de piada.
Outro caso que chama a atenção é a insistente apologia ao “puro chileno”, como se isso expressasse qualidade, quando na verdade é um verdadeiro “tiro no pé”.
Principalmente  após o afastamento do Chile da FICCC e das declarações da Federação Chilena que o cavalo chileno NÃO É CRIOULO.
Isso faz com que a identidade nosso cavalo enfraqueça e lentamente perca sua denominação de origem. 
Produtos com DENOMINAÇÃO DE ORIGEM tornam-se ícones e muitas vezes sinônimo para funções específicas como é o caso do CHAMPAGNE, VINHO DO PORTO, PARMEGIANO, ROQUEFORT, etc.
Paira hoje uma dúvida que deve se aprofundar após a fundação de Associação de Criadores de Cavalos Chilenos no Brasil, patrocinada pela Federação daquele país:
Nosso cavalo é Crioulo ou chileno?
Por essa razão é incompreensível  que se continue no mesmo jargão do “chileno puro” como se isso fosse uma característica qualitativa, que na realidade todos sabemos que não é.
Que me perdoem meus amigos leiloeiros por quem tenho o maior respeito, mas é necessário extirpar esse cacoete, com a competência que lhes é peculiar, não faltará sensibilidade para substitui-lo.
               O DILEMA DO CRIADOR

                O dilema do criador nos dias de hoje consiste na escolha entre criar para o mercado, ou visando objetivos técnicos de melhoramento .
                Durante décadas havia uma harmonia entre o que o mercado  buscava e o caminho do melhoramento da Raça.
Este dilema passou a existir a partir do momento em que a disseminação genética de poucas linhas de sangue tomou conta do plantel nacional, dominando amplamente a maioria absoluta dos criatórios.
Como consequência natural desse “movimento”, as diversas linhas de sangue disponíveis (já não eram muitas), que garantiam a diversidade genética da Raça, foi sendo relegado a segundo plano, inclusive sendo discriminadas pela própria ABCCC.
Essa discriminação se configura principalmente na orientação para um biótipo específico e único imposto através das concentrações de machos, que sistematicamente vem eliminando animais com tipicidade sem defeitos graves e inseridos nas medidas oficiais, mas que segundo a Abccc não conferem com o “biótipo que se procura”.
Nossa genética se aprofundou num único rumo. Concentrou – se exageradamente , com pequenas variações que na realidade conduzem invariavelmente a uma origem comum, fato que nos conduziu a um afunilamento genético bastante sério.

                          O BIOTIPO MODERNO
               
Embora tenhamos perdido algumas características raciais no estabelecimento do biótipo moderno de Cavalo Crioulo, indiscutivelmente nos aproximamos mais do cavalo de sela universal.
Modificamos o biótipo de nosso cavalo (a meu juízo para melhor), agregamos beleza, facilidade de movimentos, docilidade e equilíbrio num espaço de tempo razoavelmente curto, é indiscutível que temos hoje um PRODUTO FINAL melhor que aquele de trinta ou quarenta anos atrás.
Que cavalo é esse?
Qual foi a receita, ou como dizem os ingleses que “blend” determinou o aparecimento desse novo Cavalo Crioulo?
Quais os ingredientes que tornaram possível produzir esse produto final e principalmente QUAL A DOSAGEM DESSES INGREDIENTES?
Tão incontestável quanto à verdade do avanço, é a participação de dois biótipos distintos na formação de um terceiro, além de distintas correntes de sangue que mescladas deram esse resultado.
Resultado que se estabeleceu TEIMOSAMENTE COM UMA DOSAGEM EQUILIBRADA ENTRE 25% E 75% DE CADA FORMADOR, mantendo uma média em trono de 50% para os animais preponderantes em desempenho fenotípico (morfologia e função).
De qualquer maneira a estatística mostra que quando fugimos dessa média nos afastamos do melhor desempenho, tanto para mais como para menos, isso quer dizer que NECESSITAMOS DAS ORIGENS FORMADORAS, tanto de um lado como de outro.
No momento que não dispusermos mais de distintas linhas de sangue e distintos biótipos, não teremos mais o produto final pela simples razão de não dispormos da “matéria-prima” para produzi-lo.
Várias postagens neste blog demonstraram que as estatísticas comprovam que os resultados mais expressivos são alcançados com animais mesclados entre linhas a razão de 50% na média. 



                                                      A CAUSA E O EFEITO
                Não há efeito sem uma causa determinante, é importante para nós crioulistas determinar com precisão as causas que determinaram a produção do Cavalo Crioulo Moderno, ou do “new type”.
                Acreditar que esse cavalo já tenha fixado geneticamente suas características a ponto de reproduzi-las com mediana regularidade é no mínimo uma temeridade que assumimos meio inconscientemente.
                Identificar as causas nada mais é que garantir o rumo, não perder as saídas estratégicas, conservar as alternativas genéticas que estão se tornando raras pela força do mercado impulsionado pela propaganda.
                O curioso de tudo isso é que quem faz a propaganda e em última análise conduz o mercado, somos nós mesmos e por interesse comercial de curto prazo apresentamos SOMENTE O EFEITO, esquecendo propositalmente AS CAUSAS.
Esse é o paradoxo que pode nos levar a condição de vítimas de nossa própria criação.
Se de um lado em curto prazo obtivemos resultados comerciais importantes, em longo prazo nos encaminhamos para uma verdadeira “sinuca de bico”, sem alternativas genéticas satisfatórias.
A única razão pela qual não identificamos publicamente as causas é por não dispormos mais da “matéria prima original” para oferecer ao mercado, dessa maneira continuamos a promover o efeito como se fosse a causa.
Alguns criadores tiveram a cautela e o bom senso de mesmo contra a corrente dedicarem-se de selecionar linhas de sangue alternativas entre eles cito alguns exemplos de relevância: Cabanha Santa Edwiges com Redoblado, Cabanha Capão Redondo com Chingorioli, as Cabanhas especializadas na Marcha com o sangue Martins, Flávio B. Tellechea que nos áureos tempos do Hornero importou Compadron Charque e antes dele Del Oeste Plumero, o pessoal de Jaguarão orientados pelo Luiz Carlos trouxeram um cavalo de origem Cardal,
Mais recentemente a parceria Puro sangue Crioulo formada por cabanhas do Paraná e Santa Catarina lideradas pela Rio Bonito, importaram sete garanhões e mais de setenta éguas, formando um núcleo importante de origem materna Pereira Brasil com linha superior Ballester.
Essas são ações que em curto prazo podem parecer estar ao arrepio do mercado, mas que na realidade representam um resgate das verdadeiras CAUSAS do efeito que desfrutamos hoje: O CAVALO CRIOULO MODERNO.

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