domingo, 8 de setembro de 2013

POESIA

                                                    POEMAS GAUDÉRIOS   
 
Um dos maiores orgulhos que tenho do Rio Grande e que me faz sentir imensa saudade, mesmo de coisas que não vivi na experiência, mas que fazem parte de um imaginário que todo gaúcho herda, é a poesia gaúcha.
Termos regionais que lembram nossa identidade e nos diferenciam positivamente do restante do Brasil, digo positivamente pois não faço parte daqueles que pretendem enaltecer sua cultura diminuindo a dos demais, pertenço sim, àqueles gaúchos que honram suas tradições e tem como único desejo sua preservação nesses tempos de tanta flexibilidade nas opiniões.
Por isso é que publico mais uma do nosso maior poeta, o Payador Jayme Caetano Braun :


Trovador Negro

Negro de sorriso claro,
Como sinuelo de pampa,
Que sintetizas na estampa
Longínquas reminiscências;
Negro que lembras dolências
De alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas
Dos rios de muitas querências.

Essa cordeona que abraças
Com ciumenta intimidade,
Traduz - na sonoridade,
Quando teus dedos passeiam,
Madrugadas que clareiam,
Campos pelechando em flor,
Chinocas pedindo amor
E potros que corcoveiam.

E quando a cordeona espichas
Aberta - como prá um pialo,
E o verso sai - de a cavalo,
Sobre a cadência da nota,
Tua mirada remota
Se perde - coxilha acima,
Como quem busca uma rima
Sem saber de onde ela brota.

Tu sim - és poeta - e o mundo,
Prá ti - se torna pequeno.
E nem mil poetas - moreno,
Expoentes de Academia,
Campereando - noite e dia,
O vocabulário gasto
Podem dar cheiro de pasto
Como tu dás à poesia.

Negro de sorriso aberto
Como clarão de alvorada,
Abre essa gaita aporreada,
E canta - a mais não poder.
Canta negro - até morrer,
Com força de mil gargantas,
Pois cantando como cantas
Ninguém te iguala em saber.
                                                   

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