quarta-feira, 3 de julho de 2013

NEGRO ABRELINO



 


 
Morreu o negro Abrelino
Que andou a ginetiar o destino
Sobre a dureza da vida
Fez do trançado de crina
Instrumento de sua arte
Ginetiando fez sua parte
Pelos rodeios do pago
Negro, Negro do sorriso largo
Com olhar de calmaria
Aquele jeito gaúcho
Fez dar vida a poesia
 

Companheiro do mate amargo
Bem cedo ao cantar do galo
No seu jeito de gaúcho
Fostes professor de luxo
Da vivência campeira
Ensinou da sua maneira
A sujeitar potro aporreado
E assim deixar-lhe domado
Pra lida em qualquer rodeio
Cavalo doce de boca
O Pingo dos meus arreios.
 

Fostes Sentinela da Cultura
Uma nobre criatura
De bondade e coração
Fazendo do chimarrão
Companheiro das jornadas
Nas frias manhãs de geada
Nos invernos da querência
Trazendo em sua crença
Algo que só se expande
Um infinito orgulho
E Um amor pelo Rio Grande.

Nos seus causos no galpão
   ensinou a tradição
para o velho xirú tropeiro
até o mais novo guri campeiro;
Aprendeu sua lição
Junto ao fogão de chão
Repassou ensinamentos
Ensinou o trançado de tento
Necessário ao campeiro
A ti devemos muito
Negro Abrelino Guasqueiro

Nos rodeios do Rio Grande
Onde teu braço se expande
Na extensão do teu laço
Na hora de cruzar o rastro
De algum matreiro fujão
Usava como proteção
Pra evitar algum talagaço
    Na hora que firma o laço
Aquele avental de couro,
chamado de tirador
guardião e protetor
do Negro Abrelino Laçador.

Já pelo final da tarde
Quando o povo se aglomera
Pra ver a peleia de duas feras
Na ginetiada em pêlo
Espetáculo do rodeio
Do qual fostes grande ator
Ensinou como professor
A cortar potro na espora
E sujeita-lo ao Rebenque
Negro Abrelino Ginete.

Na arte da iguaria
O carreteiro de charque
Bóia com jeito de arte
Ali junto ao fogão
Naquele ancestral galpão
Usando a velha panela
Ensinaste muita donzela
O segredo do tempeiro
Comida de fundamento
Do negro Abrelino Cozinheiro.

Mas a morte é china maleva
Como já disse o poeta
Que chega assim traiçoeira
E marca o fim da carreira
E nos tira do rodeio
Golpe feio e traiçoeiro
Deixou um vazio no peito
Quando partiu este taita
Em um profundo silêncio
Sem o gemido da gaita.

O Agosto foi inclemente
Com este bravo ginete
Que ao rodar do cavalo
Boleou a perna pro outro lado
Mas deixou ensinamentos
Bondade aos quatro ventos
Do seu coração sereno
Negro Abrelino Parceiro
Deixou saudades amargas
Que o tempo por mais que ande
Da memória não se apaga;

E agora que estas vivendo
nas mais distantes planuras
ensinando as criaturas
do Patrão velho, nosso Senhor
talvez pra algum anjo payador
ou talvez um domador
de sonhos e sentimentos
espalhando pelos ventos
bondade e sabedoria
o que transmitiu dia-a-dia
nas barrancas do Uruguai.
Neste torrão sagrado,
da legendária Nonoai.

Partiu para a ultima morada
Seguindo na velha estrada
La no alto da coxilha
Pra descansar da vigília
De Sentinela do Pampa
Deixando na nossa estampa
Um aperto de saudade
Indo para a eternidade
Naquela velha carroça
A ti devemos homenagem
Negro Abrelino Barboza;
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário