terça-feira, 26 de março de 2013

HORÓSCOPO GAUDÉRIO

                                                                  Horóscopo Gaudério 
  
Doze Lôco Solto
A primeira coisa a entender é que não é só tu que existe, tem mais onze loquinho. A segunda, é que não tem signo melhor, nem signo pior. É um pior que o outro.
 
 
Áries - 21/03 a 20/04
Bicho mais fogueteiro e metido não tem. Ele atropela todo mundo, que nem bagual solto em feira de porcelana. Tem mania de ser sempre o primeiro. E é: o primero... loco!
 
Touro - 21/04 a 20/05
Esse, quer ser o maior dos latifundiários: é o dono da estância e das plantação. Se bobear, invade o planeta inteiro. Mas tem desculpa: sabe fazer um doce de abóbora daqueles, e, enquanto mexe as panela, fica te declamando e trovando cosas lindas de sua autoria. Êta, índio animal!!!
 
Gêmeos - 21/05 a 20/06
Esse vivente só quer prosear, assuntar. É o mascate do Zodíaco, o leva-e-traz. Sabe de tudo, e sabe contá causo que é uma beleza. Não esquenta banco, e parece que tem bicho carpintero. Lá em Brasília, até pouco tempo atrás, tinha um desses (Agora, tem de novo). O índio velho só queria andar de avião, pra lá e pra cá, com a prenda do lado. Uma batata doce, pra quem adivinhá quem é o dito.
 
Câncer - 21/06 a 21/07
Esse, é chorão que é um inferno. Tem uma memória do cão e se lembra tim tim por tim tim quem ganhou cada Califórnia e cada Grenal. Sabe de cor tudo o que tu disse pra ele naquele 4 de maio de 1984. Mas, é o dono da posada, e o que te prepara o putchero nas noites de Minuano. É dos piores.
 
Leão - 22/07 a 22/08
Foi por causa desse que inventaram o tal de Complexo de Superioridade. Bicho mais convencido, não há. É o primeiro prêmio em interpretação nos festival, arrasa na chula, é a mais bela prenda, e o rei do gado. Exige respeito, e não consegue ficar na mesma sala com uma tv ligada, pôes que não admite concorrência. Vai ser o chefe da ala dos Napoleão, lá no São Pedro.
 
Virgem - 23/08 a 22/09
Virge! Cruzes! esse é roxo por limpeza: limpa e lava o que encontrar pela frente. Mas , como só é loco de facero e não de sem-vergonha, pelo menos, nunca foi visto lavando dinheiro nas ilhas Caimãs. Tem cuia própria pro mate, porque é mais higiênico, e tá sempre de vassoura na mão. Parece normal, mas é dos mais maníacos.
 
Libra - 23/09 a 22/10
É danado de namorador. Só quer pezinho pra cá e pezinho pra lá. Não faz outra cosa. Também adora se metê em política, mas só fica olhando, em cima do muro, enquanto a indiada dá um duro, aqui embaixo. Nem sei se não usa cuecão de florzinha por baixo das bombacha... Mas pode ir tirando o cavalinho da chuva, porque é só frescura. Ele não é veado!
 
Escorpião - 23/10 a 21/11
O loco dos loco. Prá puxá o facão, não faz cerimônia. Mas, depois de todo o estardalhaço, fica com uma cara de culpado e arrependido que irrita até a mãe dele. Não perde a mania de mexer nos trauma... dos otros. O velho Freud, que também não era dos mais normal, tinha o tal de Ascendente em Escorpião. Esse, nem com banda...
 
Sagitário - 22/11 a 22/12
O índio aqui, acha que é o verdadeiro Centauro dos Pampas, citado várias vezes pelos nossos historiadores. Se perdeu do seu bando e não sabe se foi perto de Vacaria, ou de Pelotas, de tão loco. Se alguém quiser se comunicar com ele, o email é: coicemanotaç (mogango) pampa.com.rs
 
Capricórnio - 23/12 a 20/01
Esse é o introvertido! Metido a tímido, mas foi ele quem descobriu o Complexo de Inferioridade. Não quer incomodar e, pra fazer ele entrar no rancho ou se chegar pra roda de chimarrão, é um custo. Não se acha nada, sonha com ele no futuro, que é, quando ele acha que vai existir. Otro que só internando!!!
 
Aquário - 21/01 a 19/02
Ele quer mudar o mundo. Não muda nem as tela dos galinhero e as lâmpada queimada. Adora uma revolução, um protesto, ou deixar o povaréu de cabelo em pé. No fundo, o que ele quer é aparecê.
 
Peixes - 20/02 - 20/03
Já esse, o que quer é desaparecer. Vive com a cabeça nas nuvens, viajando... Diz que conversa com a Mboitatá, já viu o Negrinho do Pastoreio, e recebe o Sepé Tiarajú. Mas, o que tem de doido, tem de bonzinho. É só não contrariar.
         
    Bruxarias Campeiras

Manjericão:
 Tu sabias tchê bagual, que a tal de erva manjericão é um santo remédio para os teus males do amor e das finanças? Se quiseres ter sempre amor e uma grana na poupança, planta o manjericão no teu jardim, ou num vaso em teu apartamento e não desgruda o olho. Podes também, para ficar mais charmoso, bagual querido, colocar um pouco dessa planta mágica no teu mate.
Agora, se estiveres mesmo a perigo, e estás saindo prá uma bailanta, cheio das más intenções, põe um raminho de manjericão no teu bolso ou bolsa. Ou toma um banho com a tal erva. E te cuida, porque eu não me responsabilizo pelos resultados!
 
Cebola
Vivente: pois ainda que não saibas, cebola não é só prá pôr no teu xixo. Essa maravilha da natureza era muito apreciada (e saboreada) pelos povos mais antigos, que a usavam até como afrodisíaco.
Mas como ela contém muito enxofre (daí o seu sabor ativo, e aquele cheiro bárbaro!) ela põe todos os bichos e as bichas prá correr: acaba com os resfriados e com os vermes. Agora, se tiveres um parente bem malito, de cama em casa, deixa uma cebola cortada pela metade e colocada num prato perto do doente.
Ela ajuda a manter o ar limpo e protege os visitantes. Mas o melhor da cebola é o seguinte: terias, china velha, por acauso um marido por aí daqueles que só trocando por dois de quinze, assim meio barrigudo, careca e que não larga a televisão.
Bom, a barriga e a tv ficam prá outro dia, mas quanto à careca é o seguinte: pega uma cebola, o marido e vai pro sol. Aí tu esfrega bem a cabeça do dito cujo e deixa ele lá pegando uns raios solares (só não me deixa o hôme pegar insolação). Aproveita e faz o mesmo com o teu cabelo, que ele vai crescer forte e mui lindo!

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO:
 
 
No extremo sul do Brasil, a costa do Rio Grande do Sul apresenta uma planície costeira arenosa, formada nos últimos avanços e recuos do nível do mar, relacionados às glaciações cíclicas.
Separando a Lagoa dos Patos do Oceano Atlântico, um trecho de restinga bem preservado compõe-se de banhados, matas nativas, campos de dunas, lagoas e praias oceânicas e lagunares. Essa diversidade de habitats, a abundância alimentar e a calma local permitem a coexistência harmoniosa de muitas espécies, caracterizando a região como um refúgio de aves.



Sucessão de Ambientes
Sucessão de ambientes em uma vista aérea a partir do continente em direção ao oceano.



Rotas migratórias
A Lagoa do Peixe tem comunicação com o mar, e suas águas rasas atraem 26 espécies migratórias do Hemisfério Norte e 5 espécies vindas do Sul, como o Flamingo. Além de contar com 182 espécies de aves, cada ambiente abriga plantas e animais característicos perfeitamente adaptados às condições do meio.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe foi criado em 6 de novembro de 1986, com o objetivo de preservar amostras representativas desses ecossistemas costeiros, permitindo a continuidade do ciclo de vida das aves migratórias.
Abrangendo porções dos municípios de Mostardas, tavares e São José do Norte, sua área totaliza 34.400 hectares, com cerca de 62 km de extensão e 6 km de largura, em média.
Sua importância internacional foi reconhecida através da inclusão na Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limnícolas, na reserva da Biosfera (Unesco) e Convenção de Ramsar.

LAGOA DO PEIXE (b)

LAGOA DO PEIXE
 
maçaricos migratórios


Um dos principais motivos para a criação do Parque Nacional foi sua importância vital para as espécies de aves migratórias que utilizam a área em seus ciclos anuais. Entre estas, 26 espécies fazem ninho no Hemisfério Norte e algumas, como maçarico-de-peito-vermelho, fazem gigantescas migrações.
Os seus ninhais podem ser encontrados próximos ao pólo norte, em junho e julho, quando a neve degela na tundra ártica. Com a chegada do inverno, adultos e filhotes, fugindo do frio, viajam até a Lagoa do Peixe, com bandos seguindo até a Patagônia. Aqui os adutos adquirem uma plumagem mais colorida, própria para a reprodução, e ganham peso para a longa viagem de volta ao Ártico.
Os invertebrados que eles consomem são a fontes energética. Uma etapa da viagem pode durar até cinco dias, sem paradas, se as condições climáticas forem favoráveis. Chegam a percorrer cerca de 20.000 km em um ano!

Maçarico-do-bico-virado acima, Andorinha-do-mar-do-ártico abaixo
 
 
 
 
Maçarico-do-bico-virado na foto superior e Andorinha-do-mar-do-ártico na inferior

Os maçaricos, as batuíras e andorinhas-do-norte passam todo o verão aqui, viajando para o norte a partir de abril.
A Lagoa do Peixe recebe também aves migratórias do Hemisfério Sul. O mais vistoso é o flamingo que, no inverno, após a reproduçlão, foge do frio chileno e argentino, trazendo seus filhotes.
Maçarico Batuíra

O Parque é a única área no Brasil onde se
avistam flamingos o ano todo

Diferentes Espécies

LAGOA DO PEIXE

                                                 IMPORTÂNCIA DA LAGOA DO PEIXE



pingüim-de-magalhães
Composta de areias finas, as praias oceânicas escondem milhares de organismos na zona de vai-e-vem das ondas.
São ricas, em função do desagüe da Lagoa dos Patos e da mistura de águas quentes que vêm do Norte com águas frias e nutritivas subantárticas.
Os organismos enterrados são, em sua maioria, filtradores, servindo de base alimentar para pequenos maçaricos migratórios. Os filhotes dos peixes criam-se na zona de rebentação, alimentando aves, peixes e tartarugas marinhas.
 
 
 
andorinhas-do-mar
              Andorinhas do Mar
 
No inverno, podemos encontrar espécies vindas do Sul, como o pingüim e a baleia-franca. Os leões-marinhos e os lobos-marinhos descansam na praia, precisando de sossego.
O Parque abrange uma faixa de praia com cerca de 35 km de extensão, limitado ao Norte pelo Farol de Mostardas.
lobo-marinho-branco-do-peito-branco
Lobo-marinho-do-peito-branco

andorinha-do-mar-da-cabeça-branca
Andorinha-do-mar-da-cabeça-branca
baleia-franca
Baleia-franca

LITORAL DO SUL

                                                        DUNAS E COSTEIRAS


escultura dos ventos
Há cerca de 5.000 anos, com a subida e descida do nível do mar, formaram-se grandes bancos de areia os quais isolaram as lagoas costeiras do oceano.
O gigantesco cordão litorâneo de dunas é movimentado pelos fortes ventos do quadrante nordeste e sudeste, trazendo ou levando a areia. A fixação das dunas depende da vegetação característica, adaptada às condições extremas desses ambientes. Nas dunas da praia, as primeiras formações iniciam-se no limite das ressacas do mar, com plantas que suportam a salinidade.

dunas
As dunas separam a lagoa do oceano


Em setembro, a margarida-das-dunas tem sua floração, colorindo a paisagem. Escondido em galerias, o tuco-tuco é um pequeno roedor residente das dunas.
Encontram-se ali muitos insetos, répteis e anfíbios. Aves como o piru-piru e o maçarico-de-colar, põem os ovos e vivem o ano todo associados a esse ambiente. O cordão de dunas funciona, ainda, como barreira à invasão da água salgada em ambientes interiores e balneários, protegendo as espécies e a água subterrânea.
margarida-das-dunas
As dunas separam a lagoa do oceano

quinta-feira, 21 de março de 2013

QUATI

Pai Quati.         
 
Em meados do século passado, um fato curiosíssimo prendia a atenção dos moradores dos Banhados, no segundo distrito de Santa Maria.
Era o caso que, numa ou noutra estância, lá naquelas bandas, de quando em quando, era encontrada uma esteira nova, sem uso, ou um balaio nas mesmas condições, objetos esses que mãos invisíveis iam à noite, ocultamente, deixar ali em lugar que fossem vistos logo pela manhã, ao começar a faina diária.
De onde vinham aqueles objetos? Quem os teria trazido? Ninguém atinava. Era assim, em verdade, um caso surpreendente.
Agora, o reverso da medalha. Em tais ocasiões sempre desaparecia um facão, machado ou serrote que ficasse ao relento e, algumas vezes, uma manta de charque que repousava no varal, ou uma ovelhinha...
É incrivel, diziam todos. Na impossibilidade de ser desvendado o mistério, a fantasia popular deleitava-se em tecer, em torno do caso, estranhos comentários, onde sempre o demônio entrava como figura obrigada.
A princípio, o povo, muito especialmente as mulheres, não tocava nos objetos achados em tais condições, atribuindo o fato a artes do diabo, ou pelo menos a feitiço, em que eram mestres os negros escravos trazidos da costa da África.
Mas com o tempo, verificando-se que as esteiras e os balaios deixados não faziam mal a ninguém, ao contrário eram uma utilidade evidente, a prevenção desapareceu chegando ao ponto de algumas pessoas deixarem à noite, na mangueira ou na frente da casa, facas, tesouras, cordas, galinhas atadas pelas pernas, na esperança de ser qualquer dessas coisas trocadas por uma esteira ou um balaio.
Durante anos, tais transações foram, naquele lugar, o fato mais natural do mundo, tendo perdido seu cunho sensacional, por ter caído no domínio das coisas comuns.
Em certa ocasião, escravos que andavam à procura de mel em sua mata virgem, dois quilômetros mais ou menos distantes da casa da estância, perceberam que do centro da floresta elevava-se espiralando uma tênue nuvem de fumaça branca.
Surpresos, procurando desvendar o enigma, um dos pretos galgou a copa de uma árvore gigantesca e lançando o olhar em direção ao ponto de onde saía o fumo em novelo, descobriu um brasido no meio da mata espessa, onde negro horrendo se entretinha em preparar um assado.
Descendo, comunicou aos parceiros a descoberta, resolvendo capturar o indivíduo que, naturalmente, era algum negro fugido.
Armados até os dentes, os escravos puseram em cerco o desconhecido e, avançando cautelosamente, caíram sobre ele, subjugando-o, apesar da resistência tenaz oposta pela vítima.
Era um negro de proporções avantajadas e de aspecto medonho, em razão do cabelo emaranhado e pelo hirsuto que lhe cobria a cara, onde os olhos cintilavam como brasas. Cobria-lhe o peito e as costas uma couraça de pele de quati costurada como cipó, e prendia aos quadris uma espécie de tanga pele do mesmo animal.
Levando à estância e apresentado o novo espécime da nossa fauna a quem logo chamaram de Pai Quati em razão de sua indumentária, nada foi possível apurar, de momento, pois o desconhecido não compreendia a língua portuguesa.
Chamados alguns pretos nascidos na costa da África para se entenderem com Pai Quati, um deles o compreendeu afinal. Eram nascidos na mesma região.
Foi, então, explicado o mistério das esteiras e balaios!
O caso era o seguinte: Tendo chegado o referido preto ao Rio Pardo, em uma leva de negros para serem vendidos em leião, conseguiu ele evadir-se e, atravessando sertões, precipícios e banhados, lutando com feras e as intempéries, chegou são e salvo ao segundo distrito de Santa Maria, onde, dentro da mata virgem, armou sua choupana e descansou, em termo.
Bom por índole e honesto por instinto, não quis ele roubar os utensílios de que precisava, nem a carne que comia quando lhe faltava caça. Assim, perito que era na manufatura de cestos e esteiras, meio de vida que tinha em sua terra, dedicou-se ali, a esse mister, trabalhando, afanosamente, na fabricação de tais objetos para à noite, misteriosamente, trocá-los em uma ou outra estância, por aquilo que achasse à mão e que lhe pudesse ser útil.
Em breve, a comovente estória do Pai Quati, correndo de boca em boca, encheu a redondeza. Todos queriam vê-lo e admirá-lo.
Uma auréola glorificadora circundou-lhe a negra fronte, compensando os dias de amargura. Livre, convencido de que não seria objeto de compra e venda, Pai Quati começou a trabalhar de peão aqui e ali, sem nunca fixar-se definitivamente em uma estância, pois não raro abandonava tudo para ir, novamente, viver dentro do mato, caçando quatis.

MATE DO JOÃO CARDOSO

O Mate do João Cardoso
- A la fresca!... que demorou a tal fritada! Vancê reparou?
Quando nos apeamos era a pino do meio-dia... e são três horas, largas!... Cá pra mim esta gente esperou que as franguinhas se pusessem galinhas e depois botassem, para depois apanharem os ovos e só então bater esta fritada encantada, que vai nos atrasar a troteada, obra de duas léguas... de beiço!...
Isto até faz-me lembrar um caso.. . Vancê nunca ouviu falar do João Cardoso?... Não?... É pena.
O João Cardoso era um sujeito que vivia por aqueles meios do Passo da Maria Gomes; bom velho, muito estimado, mas chalrador como trinta e que dava um dente por dois dedos de prosa, e mui amigo de novidades.
Também... naquele tempo não havia jornais, e o que se ouvia e se contava ia de boca em boca, de ouvido para ouvido. Eu, o primeiro jornal que vi na minha vida foi em Pelotas mesmo, aí por 1851.
Pois, como dizia: não passava andante pela porta ou mais longe ou mais distante, que o velho João Cardoso não chamasse, risonho, e renitente como mosca de ramada; e aí no mais já enxotava a cachorrada, e puxando o pito de detrás da orelha, pigarreava e dizia:
- Olá! Amigo! apeie-se; descanse um pouco! Venha tomar um amargo! É um instantinho.... crioulo?!...
O andante, agradecido à sorte, aceitava... menos algum ressabiado, já se vê.
- Então que há de novo? (E para dentro de casa, com uma voz de trovão, ordenava: - Oh! crioulo! Traz mate!
E já se botava na conversa, falava, indagava, pedia as novas, dava as que sabia; ria-se, metia opiniões, aprovava umas cousas, ficava buzina com outras...
E o tempo ia passando. O andante olhava para o cavalo, que já tinha refrescado; olhava para o sol que subia ou descambava... e mexia o corpo para levantar-se.
- Bueno! são horas, seu João Cardoso; vou marchando!...
- Espere, homem! Só um instantinho! Oh! crioulo, olha esse mate!
E retomava a chalra. Nisto o crioulo já calejado e sabido, chegava-se-lhe manhoso e cochichava-lhe no ouvido:
- Sr., não tem mais erva!...
- Traz dessa mesma! Não demores, crioulo!...
E o tempo ia correndo, como água de sanga cheia.
Outra vez o andante se aprumava:
- Seu João Cardoso, vou-me tocando... Passe bem!
- Espera, homem de Deus! É enquanto a galinha lambe a orelha!... Oh! crioulo!... olha esse mate, diabo!
E outra vez o negro, no ouvido dele:
- Mas, sr!... não tem mais erva!
- Traz dessa mesma, bandalho!
E o carvão sumia-se largando sobre o paisano uma riscada do branco dos olhos, como encarnicando...
Por fim o andante não agüentava mais e parava patrulha:
- Passe bem, seu João Cardoso! Agora vou mesmo. Até a vista!
- Ora, patrício, espere! Oh crioulo, olha o mate!
- Não! não mande vir, obrigado! Pra volta!
- Pois sim..., porém dói-me que você se vá sem querer tomar um amargo neste rancho. É um instantinho... oh! crioulo!
Porém o outro já dava de rédea, resolvido à retirada.
E o velho João Cardoso acompanhava-o até a beira da estrada e ainda teimava:
- Quando passar, apeie-se! O chimarrão, aqui, nunca se corta, está sempre pronto! Boa viagem! Se quer esperar... olhe que é um instantinho... Oh! crioulo!...
Mas o embuçalado já tocava a trote largo.
Os mates do João Cardoso criaram fama... A gente daquele tempo, até, quando queria dizer que uma cousa era tardia, demorada, maçante, embrulhona, dizia - está como o mate do João Cardoso!
A verdade é que em muita casa e por muitos motivos, ainda às vezes parece-me escutar o João Cardoso, velho de guerra, repetir ao seu crioulo:
- Traz dessa mesma, diabo, que aqui o sr. tem pressa!...
- Vancê já não tem topado disso?...

FÉ DO GAÚCHO


Artigos de Fé do Gaúcho.
Muita gente anda no mundo sem saber pra quê: vivem porque vêem os outros viverem.
Alguns aprendem à sua custa, quase sempre já tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.
Pra não suceder assim a vancê, eu vou ensinar-lhe o que os doutores nunca hão de ensinar-lhe por mais que queimem as pestanas deletreando nos seus livrões. 
Anote na sua livreta:

  1. Não cries guaxo: mas cria perto do teu olhar o potrilho pro teu andar.
  2. Doma tu mesmo o teu bagual: não enfrenes na lua nova, que fica babão; não arrendes na miguante, que te sai lerdo.
  3. Não guasqueies sem precisão nem grites sem ocasião: e sempre que puderes passa-lhe a mão.
  4. Se és maturrango e chasque de namorado, mancas o teu cavalo, mas chegas; se fores chasque de vida ou morte, matas o teu cavalo e talvez não chegues.
  5. A maior pressa é a que se faz devagar.
  6. Se tens viajada larga não faças pular o teu cavalo; sai ao tranco até o primeiro suor secar; depois ao trote até o segundo; dá-lhe um alce sem terceiro e terás cavalo para o dia inteiro.
  7. Se queres engordar o teu cavalo tira-lhe um pêlo da testa todas as vezes da ração.
  8. Fala ao teu cavalo como se fosse a gente.
  9. Não te fies em tobiano, nem bragado, nem melado; pra água, tordilho; pra muito, tapado; mas pra tudo, tostado.
  10. Se topares um andante com os anelos às costas, pergunta-lhe - onde ficou o baio?...
  11. Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar.
  12. Mulher, de bom gênio; faca, de bom corte; cavalo de boa boca; onça, de bom peso.
  13. Mulher sardenta e cavalo passarinheiro... alerta, companheiro!...
  14. Se correres eguada xucra, grita; mas com os homens, apresilha a língua.
  15. Quando dois brincam de mão, o diabo cospe vermelho...
  16. Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala fina... sempre de relancina...
  17. Não te apotres, que domadores não faltam...
  18. Na guerra não há esse que nunca ouviu as esporas cantarem de grilo...
  19. Teima, mas não apostes; recebe, e depois assenta; assenta, e depois paga...
  20. Quando 'stiveres pra embrabecer, conta três vezes os botões da tua roupa...
  21. Quando falares com homem, olha-lhe para os olhos, quando falares com mulher, olha-lhe para a boca... e saberás como te haver...
Que foi?

Ah! quebrou-se a ponta do lápis?
Amanhã escrevo o resto: olhe que dá para encher um par de tarcas!...

terça-feira, 19 de março de 2013

NOSSO LITORAL

Cemitério de Navios na Costa do Rio Grande do Sul


Há mais de duzentos anos, nos Campos Neutrais, bandoleiros colocavam tochas em chifres de bois para simular a existência de faróis sinalizadores e desviar os navios de suas rotas. Assolados por ventos fortes, ondas enormes e por bancos de areia traiçoeiros, dezenas de navios não resistiam e naufragavam ou encalhavam na beira da praia, tornando-se presas fáceis para os grupos armados que aterrorizavam essa terra de ninguém. As praias de mar aberto por onde antes perambulavam os bandoleiros estão tomadas hoje por aves migratórias que atravessam o continente para escapar do frio do Hemisfério Norte, criando um tapete de vida de rara beleza. Mas os perigos do mar continuam, justificando a fama de cemitério de navios, que atravessa os séculos. Nos 267 anos de história do Rio Grande do Sul contam-se ao menos 270 naufrágios em sua costa, que são mais comuns justamente nesta época, quando os ciclones agitam o mar, levando perigo para navios de todos os portes.

— Há uma clara relação entre os naufrágios e a passagem de frentes frias na região
As tragédias dos mares do sul têm dois momentos: até o início do século passado, além das ameaças do mar, havia o pesadelo da entrada na barra do Porto de Rio Grande, que tinha baixa profundidade e bancos de areia em constante movimentação.
 Depois disso, com a construção de molhes aumentando a profundidade do canal, o acesso ficou mais fácil, mas a turbulência continuou. Ainda em 1999, enquanto aguardava para atravessar a barra, o navio graneleiro Minghai foi empurrado pelos fortes ventos (vindos de sudeste e conhecidos como “carpinteiro da praia”) até a beira da praia em São José do Norte, do outro lado do canal, em frente ao porto, e somente foi salvo porque os ventos mudaram e voltaram a empurrá-lo para o mar. Mas nem todos tiveram essa sorte. Em 1976 o navio Altair foi empurrado para a beira da praia e não conseguiu escapar. Terminou sendo abandonado a 12 quilômetros do Cassino e hoje é uma das atrações turísticas e cartão postal desse balneário da cidade de Rio Grande.
— No ano passado foram dois naufrágios, ambos de barcos pesqueiros que navegam com menor segurança e muitas vezes descumprindo orientações para não saírem para o mar. Em julho houve o naufrágio do Magalhães II, no Albardão, que chegou até a praia empurrado por um ciclone. Em setembro ocorreu o segundo, a 270 quilômetros da costa, na altura de Tramandaí, no litoral norte. Uma onda gigantesca durante um ciclone virou o barco, matando dois tripulantes e deixando os outros seis à deriva. Somente foram localizados quatro dias depois — acrescenta Rodrigo Torres.
A turbulência dos mares do sul acompanha todos os momentos da história.
  Apenas nesse período aconteceram 114 naufrágios, envolvendo embarcações de 17 países. Apenas em um dia (14 de maio de 1856) ocorreram sete naufrágios. Em 11 de agosto de 1887 foram registrados outros cinco, um deles, o do navio Rio Apa, matando 113 pessoas. Houve 0,2 navio afundado para cada 390 entradas de navios no Porto de Rio Grande e um navio perdido para cada 2.435 saídas do porto, justificando a histórica denominação de cemitério de navios. Apenas entre o Chuí e Maldonado, no Uruguai, existem 60 navios encalhados e afundados próximo à costa, muitos deles visíveis quando a maré está baixa.

Os restos do navio inglês “Prince of Wales”, afundado em junho de 1861, ao sul do farol do Albardão, no extremo sul do Rio Grande do Sul, estão entre os que, segundo moradores de Santa Vitória do Palmar, ainda podem ser vistos de vez em quando, quando a maré baixa. Esse navio estaria entre os que foram atraídos para a beira da praia pelos bandoleiros que aterrorizavam os campos neutrais há dois séculos, incidente que foi o pivô da chamada “Questão Christie”, que quase resultou em um conflito armado com a Inglaterra, que chegou a deslocar barcos de guerra para a região.
 
     PRÓXIMO AO FAROL DE MOSTARDAS , os restos de um casco de madeira.
 
 NO FAROL DA SOLIDÃO restou um casco em aço na praia. 
 
NAVIO ALTAIR NA PRAIA DO CASSINO em Rio Grande 
 
NAVIO MOUNT ATHOS 
 
                            CASCO DE UM BARCO PESQUEIRO perto do farol da Mostardas
 
NO FAROL DA CONCEIÇÃO  se avista sómente o mastro do navio. 
 
NA PRAIA DO MAR GROSSO em São José do Norte,casco em madeira de um barco pesqueiro. 

 
NAVIO NAUFRAGADO  ALTAIR
 
 

 
 
 

FARÓIS DO SUL

                                 Fotos dos faróis gaúchos (Chuí a Torres)
 
 Felizmente acabei conhecendo vários deles, mas alguns não foi possível, pois somente com uma 4X4 é possível transpor algumas regiões para ter acesso a eles.
Vale lembrar que o litoral do RS por ser uma faixa contínua de terra (reta), praticamente sem acidentes geográficos é possível trafegar pela sua costa.
 Antigamente muitas viagens intermunicipais eram feitas através destas rotas (quando não havia as estrada, claro). Para trafegar lá é só ter um mínimo conhecimento dos horários da maré alta e evitar dirigir neste período, pois há risco de atolar o carro.
Também é interessante comentar que o litoral do RS é tido como um cemitério de navios, pois como não existem baías nem outros acidentes, o mar é muito violento e as ondas quebram com força na costa, muitas vezes arrastando as embarcações que ficam encalhadas e abandonadas.
 
                                                          FAROL BARRA DO CHUÍ
 
       FAROL DA SARITA ( Divisa Santa Vitoria do Palmar e Rio Grande )
Farol Sarita.

                                                           FAROL DO ALBARDÃO

                                                                    FAROL VERGA

                                               FAROL  MOLHES DA BARRA  ( Rio Grande )

                                                FAROL DA BARRA ( São Jose´do Norte)

                                                             FAROL DO ESTREITO

                                                             FAROL CONCEIÇÃO
 
FAROL  DA MOSTARDAS

                                                            FAROL  DA  SOLIDÃO
 
                                                                  FAROL  BERTA

                                                            FAROL DA CIDREIRA

                                                              FAROL TRAMANDAI
               
                                                          FAROL CAPÃO DA CANOA

 
FAROL ARROIO DO SAL 
 
FAROL DE TORRES 
 
FAROL  MAMPITUBA 

FAROL CAPÃO DA MARCA  ( Lagoa dos Patos ) 

                                     FAROL CRISTOVÃO PEREIRA ( Lagoa dos Patos )
 
FAROL DA PONTA NEGRA ( Lagoa Mirim)